sábado, 27 de setembro de 2008

SIGA O LÍDER



Tanto o "Correio de Patos" quanto o "Novo Tempo" noticiaram que após o jogo não ter sido decidido no tempo normal, Uberlândia e Mogi-Mirim decidiram na "cobrança de penalidades". Mas empate não é falta, não cabendo cobrança de penalidade alguma. O ombudsboy procurou Edson Geraldo, do Sistema Clube, e o nosso Gegê explicou que, de fato, nesse caso, em vez de "penalidades" se diz "tiro livre direto", que é a expressão correta. O nosso Gegê recentemente foi reconhecido como o melhor repórter de campo em pesquisa realizada pelo "Correio de Patos". Alô, Gegê, "aquele abraco!".

(Revista Phatos, 1995)
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Divisor de águas


Obedecendo ao telefonema da filha, Thomaz Magalhães ligou a TV e deu de cara com a cena de um avião atravessando um arranha-céu. Ficou acompanhando um tempo e saiu de casa. Na padaria, todos estavam perplexos. “Mas como era de se esperar, havia gente gostando, achando bom”, lamentou. Rafael Malta Vesco ouviu tudo da cadeira do dentista, em Osasco, pela CBN. “Em casa, enquanto minha mãe chorava, meus amigos ligavam e davam gargalhadas histéricas. ‘Morte ao Imperialismo, Morte ao Imperialismo!’... Tenho que concordar: Morte ao Imperialismo!”. Leon Waldman, também de São Paulo, acordou bem na hora. “Dava pulos de alegria! Pulos!! Achei uma p* idéia usar os aviões. Não acreditei que ninguém tivesse pensado nisso antes!”

Leon não foi o único a não acreditar. Quando noutra parte de São Paulo a aula de matemática foi interrompida por um garoto de walkman gritando “ei, explodiram o Empire State!”, ninguém acreditou. O professor parou a aula e pegou o walkman. Após ficar uns 5 minutos ouvindo, deu a notícia: Foi um avião no WTC. A classe inteira ficou atordoada, mas continuava achando que era mentira. Um dos alunos era Samy Costa, que anos depois repetiria, inconformada: “Pobres inocentes pagaram pelas barbáries estadunidenses...”.

O sorocabano Rodrigo Lemos estava lá. Mais precisamente em Los Angeles, terminando de passar umas férias na casa do padrasto. Também vibrou quando viu as cenas. “Mas também depois só policiais nas ruas e tal... foi foda”. “Gostei mais de ter visto o Pentágono com 4 lados... quase tive um orgasmo!”, disse Diana Lavander, estudante do Objetivo, unidade Paulista. Ela conta que no colégio sempre teve muito punk e derivados, sem falar que sua classe era Humanas. Ela se lembra de um cara, que tava cabulando a aula, gritando. Todo mundo saiu correndo pra ver o que estava acontecendo. Uns amigos que estavam ouvindo walkman gritaram também. O povo saiu correndo pra cantina pra ver a televisão. “Começamos a gritar e ´forçamos’ a orientadora a liberar a saída. Todo mundo gritando na av. Paulista... foi lindo! Até chorei!”, recorda-se.

No Rio de Janeiro, a reação de Ana Vanessa Leal Sampaio foi mais comedida. Pegou uma fita de vídeo e gravou a transmissão dos atentados com um sorriso de um lado ao outro. Seu semblante mudou quando a mãe chega do veterinário dizendo que July, sua primeira gata, morrera de câncer. “Foi horrível! Mas gravei toda a matéria, ao vivo!”. Foi terrível saber que um monte de gente morreu no Onze de Setembro, diz Vanessa, “mas quantas pessoas morrem numa guerra?”, pergunta. Ela lembra que os EUA sempre entraram nas guerras de todo mundo, mataram quem podiam, quem queriam, e a potência nunca tinha sofrido retaliação. “O mundo é assim! Dolorosamente ou não, todos morrem”, filosofa. “‘Ninguém é tão velho a ponto de não poder viver mais um ano ou tão jovem que não possa morrer hoje’...”

Apesar de também ser contra a política dos EUA, nem por isso José Veellafranka, do Rio de Janeiro, deseja a morte dos norte-americanos. “Até porque havia brasileiros (e muitos outros estrangeiros) dentro das Torres Gêmeas”. José se lembra do dia em que um amigo entrou na sala de aula dizendo que os EUA haviam sofrido um ataque. Todos correram para a sala de vídeo e a primeira coisa que José viu foi uma pessoa balançando uma blusa vermelha nos andares acima de onde o avião se chocara. Pouco depois, tudo desabou.

Mariel Deak concorda com José. “Os americanos podem ser prepotentes, terem um presidente imbecil e tal, mas eles não merecem isso... não podemos esquecer que são pessoas, como eu e você, que vão ao trabalho e esperam chegar em casa e encontrar a família. Por mais mal que eles tenham feito ao mundo nos últimos anos, à Palestina, ao Japão na Segunda Guerra, ainda assim são seres humanos e não merecem morrer dessa forma. Uma dívida não anula a outra.”

Exatamente um ano depois, Marina Braga ouviria o hino dos EUA na escola a cada novo horário. O hino da bandeira também. Marina é de Belo Horizonte (MG), mas em 11 de setembro de 2002 estudava em Wisconsin. A professora de American literature chorava junto com os alunos, e Marina lá no meio quase chorando pela guerra no Afeganistão. O diretor do colégio fez um discurso terrível e ela teve vontade de voar no pescoço dele. Apesar de tudo, ficou sentida pelas vidas levadas, mas tão sentida quanto pelas vidas que foram e estão sendo levadas por Bush. “Isso acontece todos os dias, no Afeganistão, no Iraque etc., mas ninguém se comove”, concorda Renata Puetter Mattos, do Rio.

Simonne Fonseca tinha acabado de voltar dos EUA. Ela morava em Houston e depois de 9 anos tinha voltado para o Brasil. “Nunca agradeci tanto. Não agüento mais esse Bush – só faz merda”. Para ela, o verdadeiro inimigo número 1 da América e do mundo é George W. Bush, o presidente americano mais criticado da história. É crescente o número de pessoas que condenam o proveito político que Bush fez da tragédia, justificando medidas totalitaristas, cruéis e interesseiras. “Se os atentados não tivessem ocorrido, o governo do Júnior teria sido marcado apenas pela mediocridade”, afirma Mônica Aquino, de São Paulo.

Depois do Onze de Setembro, a rede britânica BBC quis saber a opinião da população de onze países sobre os Estados Unidos e seu atual presidente. No Brasil, a pesquisa ficou a cargo da Rede Globo e o resultado foi divulgado no Jornal Nacional: 65% dos brasileiros consideraram Bush filho uma ameaça maior que Bin Laden.

“É porque Bin Laden é um terrorista que faz o que faz por causa de tudo que os EUA fizeram o mundo passar em toda a História. O Bush, por outro lado, é terrorista que faz o que faz por controle, poder e dinheiro”, explica Ana Vanessa Leal Sampaio, do Rio de Janeiro. Tammam Daaboul, damasceno residente em São Paulo, arremata: “A comunidade árabe também odeia Bin Laden, mas odiamos muito mais quem o criou e o treinou: Bush pai e filho.”

(Revista Into - setembro de 2004)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Duplo grau de juridiquês

Com o intuito de “promover a aproximação da sociedade com o meio jurídico”, em 11 de agosto, Dia do Advogado, a ABM (Associação Brasileira dos Magistrados) lançou a “Campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica”. Todavia, diferentemente do que sugere a campanha, não é apenas o cidadão comum que tem dificuldade de compreender o tradicional e solene linguajar jurídico, mas os próprios magistrados. Exemplo disso é o despacho do desembargador Raul Motta, do Tribunal de Justiça de São Paulo, à comarca de Itu, onde estava preso Gleison Lopes de Oliveira, acusado de participação no assassinato do empresário Nelson Schincariol. Os advogados do réu postularam habeas-corpus e anulação dos testemunhos, alegando irregularidades.

Julgados os pedidos, o desembargador comunicou o veredicto à primeira instância por telegrama. De posse do documento, o juiz estadual José Fernando Azevedo Minhoto manteve os testemunhos e mandou soltar o indiciado. Exatamente o contrário do que dizia a única frase do documento! A “frase” de 135 palavras (cento e trinta e cinco!) foi escrita com a diligência de alguém consciente de que redigia um capítulo da História. Eis o “trecho” da preciosidade que originou mais um erro judiciário:

“(...) Conhecido em parte, na parte conhecida concederam parcialmente a ordem impetrada tão somente para anular o depoimento das testemunhas protegidas pelo provimento CG 32/2000, com reinquirição das mesmas, após as providências constantes do v. acórdão, ficando denegada a pretensão formulada na sustentação ora de concessão de ordem de habeas corpus, de ofício, deferindo liberdade provisória ao paciente, retificada a tira de julgamento anterior, nos termos do pedido hoje ofertado.”

Em entrevista à Rede Globo, o juiz assumiu a responsabilidade, mas tentou justificar o erro alegando ambigüidade do texto: “Na dúvida, interpreta-se sempre a favor do réu. Eu corria o risco de errar como errei, de mandar soltá-lo. Mas não conseguiria passar um fim de semana tranqüilo se eu soubesse que deixei, injustamente, um ser humano - não estou falando réu, acusado, nada disso - preso indevidamente”.

Filólogos, mídia e o próprio TJ respaldaram a alegação do juiz, dizendo que a ordem realmente admitia “dupla interpretação”, havendo quem falasse até em “uso indevido de gerúndio” na cópula “deferindo liberdade provisória ao paciente”. Ora, se a expressão diz respeito à “pretensão formulada” pelos advogados, errado não foi o uso do gerúndio, mas a escolha do verbo, pois quem defere ou indefere é a autoridade. Estaria correto o gerúndio “pedindo”, “solicitando”, “requerendo” liberdade provisória... E malgrado a redação pedante, o texto não dá margem a “dupla interpretação”: diz que o tribunal concedeu “parcialmente a ordem impetrada”, que jamais poderia ser de liberdade provisória, e, sim, de anulação do depoimento das testemunhas, que seriam intimadas novamente (“com reinquirição das mesmas”), devendo ser corrigida (“retificada”) a tira de julgamento anterior, nos termos do pedido da defesa, restando negada (“denegada”) a concessão de habeas-corpus.

Sobre o in dubio pro reo, é instituto cabível em matéria processual quando o julgador tiver dúvidas quanto às provas apresentadas contra o acusado, e Minhoto não estava julgando, apreciando provas nem interpretando a lei, mas cumprindo ordens. A suposta dúvida pairava não quanto à culpabilidade do réu, e sim quanto ao teor do despacho. A fuga do acusado após novo mandado de prisão, expedido dez dias depois, de resto, diz muito sobre sua “inocência”. Portanto, mesmo se houvesse duas interpretações, o juiz, “na dúvida”, não poderia ter emitido o alvará sem antes confirmar a ordem, sob pena de agir com leviandade.

De fato, uma auxiliar da comarca declarou ter telefonado para o TJ a pedido do juiz, que queria confirmar a autenticidade do documento e saber o que fazer com o preso –a atendente confirmou sua soltura. Isso reforça a versão de que o juiz ficara na dúvida sobre o teor do despacho, mas desmente que ele teria agido de acordo com sua “consciência”. Se a ordem de soltura foi confirmada, não há que se falar em “risco de errar” e “assunção da culpa”. Logo, o juiz estaria preocupado não em libertar um ser humano “injustamente preso indevidamente” (sic), e sim preocupado em não se rebaixar publicamente admitindo que pediu ajuda para ler o telegrama. Episódios como esse solapam ainda mais a credibilidade do Judiciário e a investidura de desembargadores como Motta e juízes como Minhoto é uma ameaça à sociedade assim como Lopes, que continua foragido.

(Jornal do Diretório Acadêmico Oito de Fevereiro - Dezembro de 2005)
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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ombudsboy internacional

O professor Frederico Sousa nos indicou o site canadense Regret the Error, editado pelo jornalista Craig Silverman. Baseado no livro homônimo, o site corrige diariamente erros perpetrados pela imprensa.

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domingo, 13 de julho de 2008

Gráfico assustador

O jornal "Correio de Patos" afirmou que "o gráfico de acidentes cresce assustadoramente em Patos de Minas". O GRÁFICO cresce! Ora, os índices é que crescem, não o gráfico.

Mostrei o caso para um amigo, que discordou de mim. Segundo ele, o "Correio" está certo, pois o número de acidentes cresceu tanto que tiveram de aumentar o gráfico para caberem os índices.

(Revista Diga - Novembro de 1995)
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segunda-feira, 2 de junho de 2008

"1964"


Há quatro décadas, o Alto Comando do Exército assumia o governo brasileiro, antecipando em vinte anos as práticas de vigilância, captura e sevícia contra “dissidentes” do Partido, descritas no clássico “1984”. Também embalada por ficções, a grande imprensa sempre soube explorar a violência institucionalizada nos “anos de chumbo” (1968-1978), enfatizando, seja no noticiário, seja em propagandas, sua “heróica resistência” ante os atentados contra os direitos humanos, notadamente a liberdade de expressão. Numa dessas campanhas, imagens de arquivo flagram agressões sofridas por jornalistas da Folha de S.Paulo que resultaram em ossos e câmeras quebrados. O slogan é memorável: "Nestes 75 anos, a gente apanhou um bocado. Mas aprendeu a fazer o melhor jornal do país".

A Folha apanhou tanto que se esqueceu de que foi nesse período que ela e outros grandes veículos de comunicação mais prosperaram, graças aos generosos fundos provenientes do governo militar. Cinco dias antes de o “golpe” de 31 de março completar 40 anos, a reportagem de capa da revista AOL revela que a maioria dos jornais, na verdade, nunca foi perseguida pela ditadura, inclusive a Folha. Pelo contrário, diz o jornalista Mino Carta na entrevista: “A Folha não só nunca foi censurada, como emprestava a sua C-14 [carro tipo perua, usado para transportar o jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser capturadas [sic] na Operação Bandeirante. Isso está mais do que provado. E hoje você vê esses anúncios da Folha, o jornal desse menino idiota chamado Otavinho [Otavio Frias Filho]. Esses anúncios contam de um jeito que parece que a Folha sofreu muito, mas não sofreu nada.”

Não obstante as punições previstas no Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), propaganda enganosa é o que os Frias fazem de menos. Também não é novidade que vários órgãos eram assim com os homens, no que podemos destacar as Organizações Globo. Mas... a Folha? “Nunca foi perseguida”? “Colaborou” emprestando seus Chevrolets? As revelações de MC sacudiram o meio jornalístico, embora não fossem novidade desde 1999, quando Mario Sergio Conti lançou Notícias do Planalto:

Até o final de 1968, as organizações terroristas de esquerda destacaram alguns de seus militantes jornalistas para trabalhar na Folha da Tarde e nos início dos anos 70 foi a vez de policiais dos órgãos de informação da ditadura se assenhorearem do jornal. O atual diretor de Redação da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, ouviu na faculdade histórias sobre o envolvimento da empresa da família com os órgãos de repressão política, inclusive sobre o uso de caminhonetes na caça aos esquerdistas. Perguntou ao pai qual era a verdade. ‘Se aconteceu, foi à minha revelia’, respondeu Frias. ‘Nunca me pediram isso’.
As declarações de Mino de que somente Veja e JB foram censurados, e quando justamente estes estavam sob sua direção (de Mino), foram recebidas com ceticismo. "Quer dizer que somente o Mino foi censurado? Muito suspeito. Como é suspeito o fato de o UOL (leia-se Folha/Abril) ser concorrente direto do AOL", diz o professor Frederico Sousa. Sem dúvida, há interesses por trás da entrevista, mas um interesse maior se sobrepõe: Folha de S.Paulo e Estadão realmente COLABORARAM com a ditadura? Em qualquer democracia de verdade, o Ministério Público teria requisitado um inquérito policial para apuração de responsabilidades.

Embora a Lei da Anistia (6.683/1979) concedesse perdão a todos que “cometeram crimes políticos ou conexos com estes” desde 2 de setembro de 1961 até 15 de agosto de 1979, isto é, até treze dias antes da publicação da lei, excetuava, no parágrafo segundo, “os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal”. E quanto aos casos não julgados? Uma participação da Folha nos referidos seqüestros, se confirmada, não a tornaria cúmplice de torturas, crime insuscetível de graça ou anistia?

O funcionário público Winston “Churchill” Smith, protagonista de "1984", tem por tarefa reescrever a História diariamente, adulterando fotografias e “editando” arquivos do The New York Times, entre outras publicações, conforme interesses do Ministério da Verdade. George Orwell só não disse que a destruição da memória nacional é levada a cabo não só por agentes e forças externos. Os próprios jornais encarregam-se disso com o mesmo empenho e competência. Talvez demasiado orwelliano mesmo para George...

(Academvs - abril de 2004)

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sábado, 31 de maio de 2008

Leitura para toda a família

A edição anterior abriu com carta assinada por uma mãe e seu filho, então com 1 ano e 8 meses (a criança assinou com uma impressão digital). Assim começa a carta:


"Somos leitores dessa revista, desde a primeira edição e deparamo-nos, em sua última tiragem de número 17, pág. 18, seção OMBUDSBOY, com uma matéria atinente ao vereador..."


Tiragem é o número de exemplares de cada edição. Portanto, a tiragem é 3.000 e 17 é a edição. Nunca houve "tiragem de número 17". A revista completará dois anos dia 10 de julho. Se de fato mãe e filho são leitores da Diga "desde a primeira edição" é claro que a mãe guardara as revistas para o menino, sendo, agora com 1 ano e 9 meses, nosso mais jovem leitor conhecido.


(Revista Diga - maio de 1996)


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OMBUDSBOY POR 1 DIA


(Correio de Patos - julho de 2000)

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Televisão e insanidade coletiva


Sempre que se noticiam chacinas como as que ocorrem nos Estados Unidos, e agora num cinema de São Paulo, a imprensa dá espaço aos argumentos de quem gosta de atribuir à TV, e, de reboque, aos video-games e à internet, a responsa pela insanidade daqueles homicidas.

No caso do índio Galdino, em Brasília, houve quem dissesse que o ato daquela quadrilha de jovens atear fogo na vítima inconsciente após encharcá-la de combustível não passava de uma brincadeira que acabara mal. De que brincadeira estão falando? E novamente ouvimos que "a culpa é da televisão". E TEM GENTE QUE ACREDITA!
Pra tudo quanto-há eles vêm com essa conversa de que a TV é culpada pela violência. Como se antes da invenção da televisão ninguém cometesse semelhantes crimes! Livros e jornais não publicam as mesmas coisas que a televisão veicula, até com descrição mais detalhada? Por que ninguém diz que a culpa é dos livros ou dos jornais?

Os assassinos do pataxó tiveram a coragem de dizer que viram a tal “brincadeira” numa "Pegadinha do Faustão". Não que eu duvide da transmissão de demência parecida nessas aberrações de domingo, mas será que vendo na TV exemplos de um dalai-lama ou Madre Tereza esses moleques saem por aí fazendo caridade?

(Correio de Patos - maio de 2000)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Números não mentem

"O número de acidentes com veículos no nosso trânsito mata dez vezes mais que nos países do primeiro mundo", informou a "Folha" de Presidente Olegário. Quem mata são os acidentes, não o número.

(Jornal Diga/Agora - setembro de 1996)

Escondendo o leite

A "Folha Patense" escreve iogurte com "y". Coincidentemente, o "Novo Tempo" também escreve "yogurte". Será um iogurte da Yopa? E a "Folha Patense" inventou ainda o "yogurte natural". Natural é aquilo que é produzido pela natureza. Será que a "Folha" encontrou a única fonte no mundo da qual jorra iogurte? Porém, nosso amigo Nivaldo Soares, do Sistema Clube de Comunicação, esclarece que existe iogurte natural, sim, pois o iogurte é resultado da fermentação natural do leite. A origem da palavra é turca e ainda segundo Nivaldo significa "leite espesso".

(Revista Phatos - julho de 1995)

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Calvin é vítima de descaso editorial









Álbum do
personagem
cult criado por
Bill Watterson




As coletâneas de Calvin e Haroldo são excelente opção para os fãs de Bill Watterson, principalmente agora que o autor decidiu não mais fazer novas histórias. Paradoxalmente, foi a maneira de ele salvar seus personagens, há muito ameaçados: o Consórcio da Universal Press, detentor dos direitos da distribuição das tiras, queria sua exploração para além dos jornais (lancheiras, brinquedos, grifes etc.), o que certamente subjugaria sua criação aos interesses das indústrias, descaracterizando-lhe o espírito, como ocorreu às obras de artistas que cederam aos “Syndicates”.

Se o cartunista soubesse das traduções perpetradas pelas editoras brasileiras provavelmente recolheria os exemplares das bancas e livrarias, suspendendo qualquer forma de utilização já autorizada. “Básicamente”, “daqui há pouco”, “equestre”, “porque não?”, “por que?”, “musculos”, “sonambulos”, “as vêzes”, “fêz”, “fôr”, “evoluidos”, “vivessemos”, “sómente”, “egoista”, “força-lo”, “quiz”, “colhí”, “doe” (do verbo doer) são algumas barbaridades encontradas em apenas um volume dos álbuns.

A sexta edição da série, por exemplo, foi intitulada “A Vingança da Babá” (foto). Rosalyn, a “babá” do título, é a diarista contratada pelos pais de Calvin para ficar com ele quando têm de ficar fora de casa por algumas horas. O nome que se dá a essa função é baby-sitter (beibissíter, na falta de um termo em português). Babá, em vez disso, é a pessoa que convive com a criança, contratada para cuidar dela em tempo integral (nanny, nursemaid, em inglês).


A confusão sempre ocorre porque a de beibissíter é profissão incomum no Brasil e a nossa tendência é associar termos estrangeiros a qualquer outro que se aproxima com o que a gente já conhece. Exemplos de falsos cognatos não faltam. Mas pior é quando a gente lê “A vingança da babá” e descobre que a dita vingança é, na verdade, “A vingança de Calvin” [clique na imagem acima para ampliá-la], que é como deveria ser o título da revista. Agora eu não sei se o erro foi importado ou é da versão brasileira. No expediente há o título original: “The revenge of the baby-sat”. Alguém sabe o que significa “baby-sat”?


(Correio de Patos - Junho de 2000)

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Você falaria mal de quem paga o seu salário?

O ombudsman é o advogado do leitor, pago pelo próprio jornal. O departamento é uma espécie de seção de Controle de Qualidade. Sua função é "criticar o jornal sob o ponto de vista do leitor", por meio das reclamações que recebe. Mas se você tem alguma queixa a fazer contra uma reportagem sugiro que vá direto ao Procon, ou à polícia.

O ombudsman é eleito para um mandato que pode ser renovado. Não são os leitores, porém, que o elegem. Defeito grave, já na origem do personagem que inspirou esta coluna. A resistência da Folha de S.Paulo em admitir seus erros, agora por intermédio do ombudsman, mostrou que o alardeado "defensor do leitor" é, na verdade, o defensor do jornal. Comecemos pelo exemplo deste e-mail que recebi, idêntico a tantas cartas daquele escritório:

“Caro Senhor:

“Vimos por meio desta pedir desculpas pela demora em responder sua mensagem de dezembro passado.

“É lamentável, mas nosso departamento não conseguiu obter uma resposta da Secretaria de Redação a propósito do problema apresentado. Como o departamento de ombudsman não tem função executiva na Redação, e não há mais esperança de que a resposta devida seja dada, propomos dar o caso por encerrado --mesmo considerando que essa é a pior solução.”

É como a Folha administra, nos bastidores, seu compromisso público de responder todas as cartas e de retificar todos os erros que comete. Indignado com a espera de mais de um ano para a correção em um artigo sobre o Pato Donald, escrevi: “(...) A Folha não pode negar o fato de ser um jornal de Terceiro Mundo. Se é o melhor do país? Deve ser (pior para o país). Mas uma pessoa não recebe a pecha de mentirosa por dizer só mentiras o tempo todo. A mais mentirosa também diz verdades. Então não é porque tem outras virtudes e diz muitas verdades que a Folha vai deixar de ser o jornal mentiroso que é”.

Em único contato com este articulista, um ombudsman disse que ficou "sem ação" ao ler-me. Parece que ficou sem ação também ao responder-me.

“Caro Sr.

“Confesso que fiquei sem ação, ao lê-lo. Se seu objetivo era unicamente comunicar-me que considera a Folha ‘um jornal mentiroso’, muito bem. Discordo do sr; na minha opinião, a Folha é um jornal cheio de problemas, por momentos meio cabotino, mas não é mentiroso. Basta lembrar que é o único do Brasil que mantém um ombudsman para, pelo menos, discutir publicamente divergências existentes.

“Não sei quais as razões que levaram à não-solução do caso de que o sr. se queixa. O sr. não me pede, nem parece que seja o caso, para desenterrá-lo.

“Volte a procurar o ombudsman da Folha sempre que considerar conveniente.”

Não sabe por que o caso não foi resolvido nem procurou saber. Mais importante para ele é rebater as acusações de que o jornal mente, limitando-se, porém, a dizer que “a Folha é o único jornal que mantém um ombudsman”. Ora, sabemos que, por mais convencido que seja, um ombudsman é um "advogado". Não é garantia de idoneidade nem de infalibilidade do jornal. Até porque sua função é apontar os erros que o jornal já publicou, e não os que publicará.

A Folha admite os erros que convêm a ela admitir na seção do ombudsman e também na seção "Erramos", mas, observe, o "Erramos" preocupa-se mais com banalidades que não interessam ao leitor, como a correção de créditos de fotos: “A foto tal é de fulano e não de beltrano, como saiu publicado ontem”. A quem mais interessa senão a um ou dois fotógrafos da Folha? Outros exemplos de "Erramos" bastante comuns: "A matéria tal, de tal dia, saiu publicada duas vezes"; "Na edição de domingo a palavra 'personagem' saiu na pág.1-6 sem o 'r'". Em quaisquer desses exemplos, o leitor que leu as matérias não precisa do"Erramos", e quem não leu, precisa menos ainda.

Todo domingo o “Erramos” ocupa-se quase que inteiramente da programação de filmes que as emissoras alteraram depois do fechamento do TVFolha. Mesmo que isso deva ser feito no primeiro caderno por ser o último impresso, será que não há espaço em outra seção que não seja a “Erramos”, principalmente porque o erro não foi do jornal? Parece-me que o “Erramos” e ombudsman existem mais para servir de salvo-conduto do jornal.

Não é a Folha de S.Paulo o único a ter ombudsman, muitos o têm, ou tinham, entre os quais a Folha da Tarde, irmã da Folha. Na época de minhas correspondências com o ombudsman da Folha de S.Paulo, a Folha da Tarde fez uma campanha contra o Diário Popular, seu concorrente direto. A campanha diz que o político Orestes Quércia é dono do "Diário" e a chamada de página inteira pergunta:

"VOCÊ FALARIA MAL DE QUEM PAGA SEU SALÁRIO?”

A gracinha rendeu um processo contra o grupo Folha da Manhã S.A., pois põe em dúvida a honestidade e a imparcialidade de toda a Redação do "Diário". Mas, admite-se, o anúncio foi muito bem bolado. Seria o caso de perguntar para o ombudsman: você falaria mal de quem paga seu salário?

“INDEPENDÊNCIA - A independência econômica e financeira é condição essencial para a independência editorial e política do jornal.” (Novo Manual da Redação, da “Folha”.)


(Correio de Patos - Junho de 2000)

ombudsboy@gmail.com

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Bem-vindo!

Esta página é uma compilação de textos publicados, entre outros, nos jornais Diga Agora e Correio de Patos, na revista Phatos e na revista Diga (já extintos), nos quais o autor atuou como media criticism.