sábado, 27 de setembro de 2008

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Tanto o "Correio de Patos" quanto o "Novo Tempo" noticiaram que após o jogo não ter sido decidido no tempo normal, Uberlândia e Mogi-Mirim decidiram na "cobrança de penalidades". Mas empate não é falta, não cabendo cobrança de penalidade alguma. O ombudsboy procurou Edson Geraldo, do Sistema Clube, e o nosso Gegê explicou que, de fato, nesse caso, em vez de "penalidades" se diz "tiro livre direto", que é a expressão correta. O nosso Gegê recentemente foi reconhecido como o melhor repórter de campo em pesquisa realizada pelo "Correio de Patos". Alô, Gegê, "aquele abraco!".

(Revista Phatos, 1995)
ombudsboy@gmail.com

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Divisor de águas


Obedecendo ao telefonema da filha, Thomaz Magalhães ligou a TV e deu de cara com a cena de um avião atravessando um arranha-céu. Ficou acompanhando um tempo e saiu de casa. Na padaria, todos estavam perplexos. “Mas como era de se esperar, havia gente gostando, achando bom”, lamentou. Rafael Malta Vesco ouviu tudo da cadeira do dentista, em Osasco, pela CBN. “Em casa, enquanto minha mãe chorava, meus amigos ligavam e davam gargalhadas histéricas. ‘Morte ao Imperialismo, Morte ao Imperialismo!’... Tenho que concordar: Morte ao Imperialismo!”. Leon Waldman, também de São Paulo, acordou bem na hora. “Dava pulos de alegria! Pulos!! Achei uma p* idéia usar os aviões. Não acreditei que ninguém tivesse pensado nisso antes!”

Leon não foi o único a não acreditar. Quando noutra parte de São Paulo a aula de matemática foi interrompida por um garoto de walkman gritando “ei, explodiram o Empire State!”, ninguém acreditou. O professor parou a aula e pegou o walkman. Após ficar uns 5 minutos ouvindo, deu a notícia: Foi um avião no WTC. A classe inteira ficou atordoada, mas continuava achando que era mentira. Um dos alunos era Samy Costa, que anos depois repetiria, inconformada: “Pobres inocentes pagaram pelas barbáries estadunidenses...”.

O sorocabano Rodrigo Lemos estava lá. Mais precisamente em Los Angeles, terminando de passar umas férias na casa do padrasto. Também vibrou quando viu as cenas. “Mas também depois só policiais nas ruas e tal... foi foda”. “Gostei mais de ter visto o Pentágono com 4 lados... quase tive um orgasmo!”, disse Diana Lavander, estudante do Objetivo, unidade Paulista. Ela conta que no colégio sempre teve muito punk e derivados, sem falar que sua classe era Humanas. Ela se lembra de um cara, que tava cabulando a aula, gritando. Todo mundo saiu correndo pra ver o que estava acontecendo. Uns amigos que estavam ouvindo walkman gritaram também. O povo saiu correndo pra cantina pra ver a televisão. “Começamos a gritar e ´forçamos’ a orientadora a liberar a saída. Todo mundo gritando na av. Paulista... foi lindo! Até chorei!”, recorda-se.

No Rio de Janeiro, a reação de Ana Vanessa Leal Sampaio foi mais comedida. Pegou uma fita de vídeo e gravou a transmissão dos atentados com um sorriso de um lado ao outro. Seu semblante mudou quando a mãe chega do veterinário dizendo que July, sua primeira gata, morrera de câncer. “Foi horrível! Mas gravei toda a matéria, ao vivo!”. Foi terrível saber que um monte de gente morreu no Onze de Setembro, diz Vanessa, “mas quantas pessoas morrem numa guerra?”, pergunta. Ela lembra que os EUA sempre entraram nas guerras de todo mundo, mataram quem podiam, quem queriam, e a potência nunca tinha sofrido retaliação. “O mundo é assim! Dolorosamente ou não, todos morrem”, filosofa. “‘Ninguém é tão velho a ponto de não poder viver mais um ano ou tão jovem que não possa morrer hoje’...”

Apesar de também ser contra a política dos EUA, nem por isso José Veellafranka, do Rio de Janeiro, deseja a morte dos norte-americanos. “Até porque havia brasileiros (e muitos outros estrangeiros) dentro das Torres Gêmeas”. José se lembra do dia em que um amigo entrou na sala de aula dizendo que os EUA haviam sofrido um ataque. Todos correram para a sala de vídeo e a primeira coisa que José viu foi uma pessoa balançando uma blusa vermelha nos andares acima de onde o avião se chocara. Pouco depois, tudo desabou.

Mariel Deak concorda com José. “Os americanos podem ser prepotentes, terem um presidente imbecil e tal, mas eles não merecem isso... não podemos esquecer que são pessoas, como eu e você, que vão ao trabalho e esperam chegar em casa e encontrar a família. Por mais mal que eles tenham feito ao mundo nos últimos anos, à Palestina, ao Japão na Segunda Guerra, ainda assim são seres humanos e não merecem morrer dessa forma. Uma dívida não anula a outra.”

Exatamente um ano depois, Marina Braga ouviria o hino dos EUA na escola a cada novo horário. O hino da bandeira também. Marina é de Belo Horizonte (MG), mas em 11 de setembro de 2002 estudava em Wisconsin. A professora de American literature chorava junto com os alunos, e Marina lá no meio quase chorando pela guerra no Afeganistão. O diretor do colégio fez um discurso terrível e ela teve vontade de voar no pescoço dele. Apesar de tudo, ficou sentida pelas vidas levadas, mas tão sentida quanto pelas vidas que foram e estão sendo levadas por Bush. “Isso acontece todos os dias, no Afeganistão, no Iraque etc., mas ninguém se comove”, concorda Renata Puetter Mattos, do Rio.

Simonne Fonseca tinha acabado de voltar dos EUA. Ela morava em Houston e depois de 9 anos tinha voltado para o Brasil. “Nunca agradeci tanto. Não agüento mais esse Bush – só faz merda”. Para ela, o verdadeiro inimigo número 1 da América e do mundo é George W. Bush, o presidente americano mais criticado da história. É crescente o número de pessoas que condenam o proveito político que Bush fez da tragédia, justificando medidas totalitaristas, cruéis e interesseiras. “Se os atentados não tivessem ocorrido, o governo do Júnior teria sido marcado apenas pela mediocridade”, afirma Mônica Aquino, de São Paulo.

Depois do Onze de Setembro, a rede britânica BBC quis saber a opinião da população de onze países sobre os Estados Unidos e seu atual presidente. No Brasil, a pesquisa ficou a cargo da Rede Globo e o resultado foi divulgado no Jornal Nacional: 65% dos brasileiros consideraram Bush filho uma ameaça maior que Bin Laden.

“É porque Bin Laden é um terrorista que faz o que faz por causa de tudo que os EUA fizeram o mundo passar em toda a História. O Bush, por outro lado, é terrorista que faz o que faz por controle, poder e dinheiro”, explica Ana Vanessa Leal Sampaio, do Rio de Janeiro. Tammam Daaboul, damasceno residente em São Paulo, arremata: “A comunidade árabe também odeia Bin Laden, mas odiamos muito mais quem o criou e o treinou: Bush pai e filho.”

(Revista Into - setembro de 2004)