domingo, 26 de setembro de 2010

Como se fosse ontem

Alessandra Beber estava em Mogi das Cruzes vendo TV quando de repente toca a vinheta do plantão da Globo. “Ih, alguém morreu!”, foi o que pensou. Em São Paulo, Thomaz Magalhães havia trabalhado até altas horas e acorda com um telefonema de sua filha. A voz dela estava estranha. Assustado, o jornalista já foi perguntando o que era, onde ela estava. Estava tudo bem, tranqüilizou-o, mas era para o pai ligar a TV. Em outra parte da capital, a estudante Janaina Viegas seguia no ônibus que a levaria pra casa quando começou a passar a notícia no rádio e um monte de pirralhinhos da quarta série começou a dizer que o mundo ia acabar.

Longe dali, na cidade de Caguas (Porto Rico), Victor Vega ouve um programa de análise política (que seria extinto logo depois) quando o locutor anuncia: "Vamos a interrumpir este programa porque ha empezado LA TERCERA GUERRA MUNDIAL”. A oficina onde Victor trabalhava liberou os funcionários mais cedo para acompanharem de casa as notícias da guerra. Fernando Artmann chegou atrasado ao escritório, em Detroit (EUA), e ao dar "bom dia" a recepcionista respondeu com um "bom por quê?". Ali também ninguém trabalhou nesse dia. Todos correram pra frente dos aparelhos de TV, onde muitos permaneceriam por 14 horas seguidas, assistindo à mesma cena.

Exatamente uma semana antes, Shadrack Diego e seus amigos estavam conversando sobre a última aula de História, sobre todas as guerras que o mundo já passou e no final acabaram falando de política. Chegaram à conclusão que estava tudo muito parado e que logo logo poderia acontecer algo grandioso na história do mundo. “No outro dia eu e meus amigos nos reencontramos”, conta o estudante de Brasília (DF), “e ficamos de cara porque a nossa ‘previsão’, uma semana antes, tinha se tornado realidade”.

Outra aula de historia começaria para a estudante Bela Schor quando a professora entrou na sala contando a calamidade. As aulas foram canceladas. No dia seguinte o colégio estava cheio de carros de polícia. O colégio, situado no Recife (PE), é judeu.

A mineira Sofia Paz estava numa escola norte-americana, em Nova York, quando os professores foram chamados para uma reunião. Meia hora depois, voltaram e levaram todos os estudantes para o gym, onde horas depois ela e seus colegas, um a um, seriam apanhados pelos pais. Nenhum dos estudantes sabia o que estava acontecendo até os pais falarem com eles. Quando Sofia saiu da escola já era tarde. Atravessaram o parque para pegar a irmã. Devido às muitas barreiras impostas pelo estado de sítio, foram pra casa a pé. Muitos colegas só chegaram em casa depois de 7 da noite. Heron Trierveiler também estava na escola. Chegou em casa, em Pomerode (SC), e viu na TV prédios em chamas. Nas primeiras horas o número estimado de vítimas era 30 mil.

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Obedecendo ao telefonema da filha, Thomaz Magalhães ligou a TV e deu de cara com a cena de um avião atravessando um arranha-céu. Ficou acompanhando um tempo e saiu de casa. Na padaria, todos estavam perplexos. “Mas como era de se esperar, havia gente gostando, achando bom”, lamentou. Robson Faria, belo-horizontino hoje residente em Patos, estava no trabalho e quando chegou à sala do chefe (no caso, o próprio pai) a TV estava ligada. Logo que sentou para assistir, rolou a segunda colisão. “Foi ruim pelo número de pessoas que morreram, mas foi bom porque mexeu no ego dos norte-americanos”.

Em Porto Alegre, Jorge Schneider estava conectado ao Terra e ao mesmo tempo assistia à TV quando deram as primeiras chamadas. “Ninguém na internet ou na TV sabia o que estava acontecendo direito”, disse. “Por causa da neblina um avião teria colidido contra o WTC.” O carioca Luiz Carlos da Costa Pereira, porém, não conseguia acessar nenhum site por causa do congestionamento das linhas. Ligou para casa e seu irmão disse que aviões atacaram os prédios mais altos de Nova York. Luiz Carlos pensou: “Que país seria louco o suficiente para enviar CAÇAS para atacar os EUA?”.

Marcelo Peron estava na cantina da sua escola, em Garça (SP), comendo um pastelão de frango com catupiry da dona Sônia. Olhou pra TV e viu o avião estatelar-se contra a torre. Pensou que tinha sido acidente: “Como nego é cego, olha o tamanho do prédio e tem gente que ainda tromba”. Rod Ess e sua mãe ficaram pasmos com aquelas imagens. Mãe e filho olhavam um para o outro, e novamente para o 767 batendo no prédio. Ela é comissária e um dos aviões em que voa é justamente o 767. Ambos sabiam que não podia ser um acidente. Minutos depois, veio o segundo impacto.

A carioca Daniela Morais estava vendo TV com a irmã, em Londres. De repente, começa a passar esta legenda: "o WTC está sendo atacado. Mude para o canal X para ter mais notícias". Elas mudaram para a tal estação e em poucos segundos caiu a segunda torre. Daniela tinha que sair, mas a irmã tentou impedi-la, falando que podiam atacar Londres também, coisa e tal. Mas Daniela foi. No metrô, havia muitos policiais, mais do que o normal. Tinha telão mostrando os acontecimentos, um monte de gente parada, incrédula, e o policiamento dobrado olhando todos os lugares, buscando algo. “Caramba, parecia coisa de cinema!”

“Eu estava dormindo, minha mãe me acordou dizendo que estavam explodindo as torres gêmeas e eu perguntei se a guerra já tinha começado”, diz Fernanda Sonim, de Perdizes (SP). Outra que estava dormindo no momento do ataque era Juliana Blondie. Seu pai a acordou umas dez da manhã e disse: “Minha filha, atacaram o World Trade Center”. Ela respondeu “E eu com isso?” e voltou a dormir.

Academvs

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

BATMAN personifica herói 'afegão'


“Não sei quais armas serão usadas na Terceira Guerra, mas a Quarta Guerra Mundial será com paus e pedras.”

Essa feliz frase de Albert Einstein (1879-1955), Nobel de física cuja teoria viabilizou a construção da bomba Atômica (Projeto Manhattan), apresenta-nos com autoridade científica e propriedade histórica ao palpitante século 21. Sabotagens virtuais? Terrorismo-catástrofe? Agentes microscópicos?

Passado pouco mais de um mês do desabamento do WTC, é possível recordar-me de que, ao ligar a TV em obediência a um telefonema, senti-me privilegiada testemunha ocular de uma passagem bíblica. De algum modo, a Cable News Network (CNN) estava transmitindo a segunda destruição da Torre de Babel, ao vivo! Não estou sendo ingênuo ou exagerado ao afirmar que, diante da confusão e hipnotizados pelo sensacionalismo televisivo, muitos tínhamos certeza de que assistíamos à extinção — incrivelmente rápida — de todos os Estados Unidos, quer pelo nítido sucesso da primeira fase de um suposto ataque mundial, quer por ser obra de Deus ou de bestas apocalípticas.

A repetição das imagens confundia-se com os acontecimentos que se repetiam. Afinal, a Torre Norte também estava soçobrando ou se tratava de um replay? Depois que o segundo 767 completou sua missão, outros ângulos do mesmo leviatã alado pareciam investidas de novas naus possuídas. Havia informações não confirmadas de que o Capitólio (o Congresso americano) havia sido atingido, e, a Casa Branca, abandonada às pressas. A escassez de imagens, se não anunciava o cerceamento de liberdades, hoje consumado, ajudava a sugerir um raio de destruição de todas as imediações. Tinha-se a impressão de haver restado na capital do Império apenas uma câmera (automática) em frente aos escombros do Pentágono. Aguardava-se com ansiedade o fim de NASA, Disneyworld, Hollywood, Microsoft, Instituto Smithsoniano e Coca-Cola nas próximas horas — e do país, nas próximas semanas. Teletipos orsonwellianos davam conta de um crescente número de aviões tripulados por cavaleiros invisíveis se dirigindo para seus alvos. No Brasil, emissoras ressuscitavam Nostradamus. Era o Juízo Final, e os EUA apenas o epicentro.

Mas rapidamente nos acostumamos com a idéia de um atentado. Apesar da convicção de Washington contra o partido Taleban desde o início, não tive a mesma facilidade em focalizar de imediato a origem dos ataques: não pela dificuldade em reconhecer algum inimigo da América, é claro, mas, pelo contrário, por seu enorme contingente potencial: Coréia do Norte, China, Cuba, Síria, Irã, Líbia, Sudão e cartéis do crack, além de organizações políticas da extrema direita e grupos paramilitares dos próprios EUA... Todavia não descartei a possibilidade de os camicases serem japoneses legítimos pondo a termo seu próprio “Projeto Manhattan”.

Pelo menos, não comprei a antítese barata e maniqueísta que os líderes políticos Bush e Bin Laden vendem em suas aparições midiáticas (“ou vocês estão conosco ou contra nós” diz um, e “esses acontecimentos dividiram o mundo em dois campos, o campos dos fiéis e os campos dos infiéis”, diz o outro). Os dois são mais parecidos do que gostaríamos de admitir, evocando Deus, justiça e liberdade, enfatizando o honroso sacrifício de vidas (alheias) no dever de manter ou alcançar a paz. Do mesmo modo que as ações do Al-Qaeda confirmam as acusações dos americanos, os bombardeios em Cabul só corroboram as denúncias contra os EUA. Falando nisso, os militares americanos, aproveitando que renomeariam a operação “Justiça Infinita”, poderiam rebatizá-la, em vez de “Liberdade Duradoura”, de operação “Olho por Olho”, dada sua natureza retaliativa. A expressão “São ataques terroristas!”, de Bin Laden, e “Nossas exigências não foram atendidas e agora eles vão pagar por isso”, dito do presidente norte-americano, aceitam sem prejuízo a inversão da autoria. De determinadas frases, se publicadas isoladamente, é impossível identificar o orador, se George bi Laden ou Osama W. Bush.

E se o milionário saudita, “naturalizado” afegão, não tivesse negado a carreira de agente, teria tudo para se tornar um ícone anglo-americano. Rebeldes e justiceiros são populares nessas culturas, vide “Guerra nas Estrelas”, “Coração Valente” e “Jesse James”. O herói de “V de Vingança” inspira-se no soldado Guy Fawkes, o traidor número 1 da Inglaterra. Executado em 1606 em frente ao Parlamento que tentou explodir, foi o articulador da Conspiração da Pólvora.

Mas o arquétipo no qual Bin Laden melhor se encaixa é Batman. Ambos os magnatas aplicam a herança dos pais no patrocínio de suas guerras particulares, impelidos por vingança e fanatismo. Armados até os dentes, Bruce Wayne e Osama bin Laden se refugiam em cavernas hi-tech, bases de suas atividades ilegais.

Em “O Cavaleiro das Trevas” (veja ilustrações), o Homem-Morcego é julgado e depois perseguido pelo governo Reagan. Bin Laden é produto da indústria americana, seja porque é síntese do que os americanos cultuam e exportam, seja porque foi treinado pela CIA. Aliás, quem garante que ele ainda não esteja a soldo, mesmo sem saber, daquela organização secreta, cuja existência sempre dependeu das intrigas que dissemina? Quantos bilhões de dólares realmente a CIA abocanhará do orçamento nacional após o êxito em Nova York?

(Folha Patense, outubro de 2001)

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Direito de resposta e dano moral

Devido a denúncia contra empresa clandestina e concorrência desleal que fiz no jornal Folha Patense, veículo da comarca de Patos de Minas (MG), fui vítima de comportamento antiético e criminoso da redação e de sua errônea ou tendenciosa interpretação da Lei de Imprensa: após minha denúncia, o jornal publicou difamação contra mim, assinada, óbvio, pelo concorrente.

Veja a que nível um jornal pode descer: escancarar nada menos que uma página para um desconhecido (e suspeito) escrever o que bem entender contra seus denunciantes. Agora, os editores querem furtar-se da responsabilidade civil e criminal com dois truques: maquiaram a difamação com o pseudônimo de "Direito de Resposta" e fazem ingênuo uso da forjada alegação "Não nos responsabilizamos por artigos assinados", impressa em todas as edições, mas sem nenhum valor legal. Só está lá graças à confiança na ignorância dos outros, ou à própria. Já pensou se para a imunidade bastasse o rótulo mágico "não nos responsabilizamos..."? Ciente de meus direitos, pedi auxílio a instituições de regulamentação da ética jornalística e publicitária, há meses, sem obter nenhuma resposta. O incidente aconteceu em janeiro.

Em 24 de janeiro, a direção da Folha Patense informou-me que a matéria "Empresa clandestina faz concorrência desleal, impune e abertamente", na qual denunciava plágio de peça publicitária de minha autoria, gerou pedido de resposta, o qual eu só poderia ler no dia seguinte, depois de publicado no jornal (o que aconteceu em 26 de janeiro). O diretor de Redação disse ainda que ele próprio não havia lido o Direito de Resposta (DR), e "o advogado do proprietário da empresa denunciada o entregaria diretamente na gráfica". Diante de meu alarme a propósito daquela difamação anunciada, a redação argumentou que eu "deveria ter pensado nisso antes de ter começado o caso".

Ora, quem começou o caso foi quem copiou minha campanha publicitária. Que o DR seria reivindicado era mais que previsível, mas que o jornal o publicaria sem ler é inacreditável. O jornal sapecou o texto, confundindo Direito de Resposta com Direito de Retaliação. Questionado por que publicaria algo que certamente me prejudicaria, sem uma investigação sobre sua origem, o diretor da Folha, 20 anos de praia, disse que igualmente não investigou se a matéria que eu havia escrito era verdadeira (!). E quis me dar uma aula da Lei de Imprensa, imposta na época da ditadura.

Segundo ele, o Direito de Resposta teria de ser dado na mesma página e com o mesmo espaço reservado ao primeiro artigo. "Inclusive com chamada de primeira página", como havia sido feito no meu caso. Disse que sempre dá direito de resposta, e citou vários exemplos. Explicou que o DR é obrigatório "sempre que alguém se sinta prejudicado pelo jornal". Liguei para o diretor em sua casa para saber se o jornal realmente não investigaria as informações contidas no Direito de Resposta. Ele disse que não podia fazer nada a respeito, e que eu não poderia ler a matéria "porque o outro também não havia lido o meu artigo com antecedência"! E ainda reclamou que eu havia lhe causado um prejuízo de uma página por ter de publicar o tal direito. Falei que ele estava se arriscando a piorar as coisas, pois dependendo de uma calúnia, ou algo que o valha, eu reivindicaria réplica, ocupando mais uma preciosa página e entediando o leitor. A solução para isso foi rapidamente encontrada pelo diretor: ele publicaria a resposta e mais nada a respeito, ou seja, daria ao outro a palavra final, estando ele mentindo ou não.

Advertido de que publicar uma resposta às escuras talvez lhe trouxesse complicações, o diretor de Redação afirmou que o "Direito de Resposta é de responsabilidade de quem escreve, e não do jornal". A Folha Patense, receio, interpretou minha compreensível preocupação como sinal de culpa.

Quando vi o texto, feito por advogados, fiquei menos preocupado e vi que o objetivo principal do Direito de Resposta era antes amenizar o estrago feito à imagem da empresa clandestina do que revidar. Tanto é esse o objetivo que o título contém um eufemismo: "Quadro a Quadro repudia boatos". "Boatos"? Ora, imputação de crime é "calúnia", muito mais grave. Por que mediram as palavras? Para me poupar? Mas, em todo caso, a Folha errou, infelizmente:

1. O conteúdo de um Direito de Resposta só não é de responsabilidade do jornal quando este é dado pela Justiça, o que não foi o caso. E, como veremos, o único Direito de Resposta possível é este aqui, que, ironicamente, a Folha relutou em publicar.

2. É óbvio que o DR não é concedido em todos os casos. Qualquer calouro sabe disso. Só é concedido para o caso da divulgação de notícias "comprovadamente infundadas". Se não, para cada página policial, haveria outra página correspondente – para os bandidos. A redação da FP desconhece que o Direito de Resposta não é o mesmo que um debate literário que a gente vê na grande imprensa. O editor o dá quase sempre ao escritor criticado, pois é matéria jornalística e pode ser dado ou negado arbitrariamente, chamado de "réplica". Mas não existe um "Direito de Réplica" ou "Direito de Tréplica". O DR é uma sentença, e o dono da Folha posa de juiz, pré-julga e condena, sem direito a apelação. No mínimo, deixando a multidão decidir, como o próprio Pilatos.

3. O direito de quem comete um delito e é citado em qualquer órgão é exatamente o contrário: o "direito de permanecer calado". Na opinião de um nobre amigo, a atitude do jornal deveria ser a de submeter o texto a mim, e, se eu quisesse, o publicaria em minha página, rebatendo seu conteúdo, como, aliás, sempre fiz.

4. Admitindo o DR, o jornal, age como se ele próprio afirmasse, por sua conta e risco, que minha matéria é falsa e merecia retificação. Agora cabe ao jornal apresentar as provas do que publicou. E o diretor de Redação sequer pode dizer que foi por falta de aviso. Alertei a redação para o fato de que um DR subtende uma absolvição dada pelo jornal. Liguei para ele até o último instante, pedindo que apurasse a versão do Direito de Resposta, sem que me desse ouvidos, novamente dizendo-me para esperar a publicação no dia seguinte. Novamente não quis saber de provas, se da minha parte ou da outra. Se eu deveria ter pensado antes de escrever, a redação deveria ter pensado duas vezes mais, antes de publicar ambos os textos.

5. Diferentemente do DR, minha matéria foi entregue na manhã de quarta-feira, e o fechamento do jornal se dá na madrugada de sexta, havendo tempo suficiente para o jornal averiguar sua veracidade, até porque a empresa citada é vizinha da Folha e a Ama Propaganda (onde trabalho) fica quase em frente.

6. Se o jornal for incapaz de apurar os fatos ("Não é nossa função investigar", disseram), deveria ter deixado esse trabalho para a Justiça. Agora não vai ter de investigar de qualquer maneira, para se defender? O pior é que o jornal fez isso apenas "para não ficar mal com seu mais próximo e recente vizinho", segundo me relataram.

7. A princípio o diretor disse que não havia lido a matéria sobre a empresa clandestina, estopim desta crise, que eu havia deixado em sua mesa. Depois desmentiu, admitindo que a havia lido, percebido sua seriedade e que a publicou porque confiou em mim. Ora, o jornal confiou em mim tanto quanto eu nele.

8. Quem leu apenas o DR vai pensar que o denunciado rebateu satisfatoriamente todas as acusações. Não saberá que omitiu uma série de fatos que foram descritos – e talvez nem vá ter tempo de comparar um texto com o outro. Mesmo quem leu meu artigo não vai se lembrar de tudo, e a tendência é sempre acreditar em quem dá a palavra final e obteve o silêncio do outro que, subentende-se, calou-se. Mesmo que eu tenha ouvido "entendidos" me dizendo que o DR foi "muito vago" e "não respondeu nada", o contingente de pessoas que ficou perdido na cortina de fumaça e que me ligou para saber o que estava acontecendo não é nada desprezível.

9. Se o jornal admitiu ter errado em não investigar, nada o impediria de fazê-lo a qualquer momento, mesmo depois de ter publicado a minha página. Em vez disso preferiu errar de novo, publicando um texto sem ao menos lê-lo, dizendo que "a página 9 iria para a gráfica com o espaço em branco reservado para o Direito de Resposta", do que duvidei. Tudo isso mediante uma peculiar e suspeitíssima condição imposta pelo meu oponente: eu não poderia ler o texto antes.

Este é um caso de desrespeito gravíssimo, que encaminhei ao Sindicato dos Jornais, Revistas e Similares do Estado de Minas Gerais (Sindijori), à Associação Nacional de Jornais (ANJ), em Brasília, à ABI e à Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas).

(Observatório da Imprensa, 2002)
ombudsboy@gmail.com

sábado, 27 de março de 2010

Adeus, companheiro!



É com profundo pesar que registramos o falecimento do companheiro comerciário Euso José da Silva, aos 50 anos, ocorrido no último dia 12. Em 2008, Euso já sofria seu segundo infarto, mas só em dezembro passado seguiu a recomendação médica de submeter-se a uma cirurgia. Uma hora e meia após dar entrada no hospital para o exame pré-operatório, faleceu devido a um endema pulmonar. Ele deixou esposa e quatro filhos.

Euso exerceu mandato sindical desde 1989, como presidente do Sindicato dos Comerciários de Patos de Minas e Região (Sindec), afastando-se apenas entre 2001 e 2004, quando assumiu a Divisão do Trabalho na Prefeitura de Patos de Minas.

Durante sua presidência, o Sindec foi a primeira entidade no país a reintegrar um trabalhador com base na Convenção 158 da OIT. Logo em seguida, o Sindicato dos Bancários de Patos de Minas e Região conseguiria a reintegração do primeiro bancário.

Amava a política e gostava de estar perto das massas. Em nota oficial lamentando a morte de um de seus fundadores e ex-presidente, o PT de Patos de Minas ressaltou que Euso não defendia somente os interesses dos trabalhadores. No Sindec — o qual também ajudou a fundar — mantinha sempre as portas abertas a outras categorias menos assistidas. Exemplo disso é a ação popular que Euso preparava contra a Copasa (foto), pedindo a anulação das cláusulas abusivas do contrato celebrado com o município de Patos de Minas. Euso Silva e o vereador Pedro Lucas (PP) tiveram o apoio de mais de 11.000 patenses (ver Voz Bancária 548).

Atualmente se dedicava ao fortalecimento das comissões sindicais de conciliação e à luta pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, para geração de mais emprego. Uma de suas últimas conquistas foi a extensão da base do Sindec para outros 12 municípios.

"Apesar dos problemas de saúde, Euso continuou sua missão com grande empenho e profissionalismo", declarou Ivan Gomes, Secretário Geral do Sindicato. "Como dizia Euso, a luta continua!".


(Voz Bancária, março de 2010)