quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Mussarela de búfala fêmea"

ERRADO:

“No ‘Aurélio’, ‘búfalo’ consta como substantivo masculino. Ou seja, mussarela de búfala deveria ser ‘mussarela de búfalo fêmea’.” (Folha de S.Paulo).

CERTO:

É tão errado escrever “mussarela de búfalo” quanto “mussarela de búfala fêmea”. Uma que o nome do queijo é com “oz” ou “ç”. Outra que, se de fato “búfalo” é comum de dois gêneros (acreditamos que sim, apesar de a palavra “búfala” encontrar-se na Larousse Cultural) é desnecessário o complemento “fêmea”, pelo menos quando tratar-se de queijo (evidentemente feito de leite), do mesmo modo que é desnecessário dizer que o ovo de avestruz é“ovo de avestruz fêmea”. Ou seja: MOZARELA DE BÚFALO ou MUÇARELA BUFALINA.

(Correio de Patos, junho de 2000)

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domingo, 24 de abril de 2011

Domingo ilegal



Todos entendem que a suspensão ao programa do Gugu foi de caráter punitivo, e não “censura prévia”, a despeito de o espírito de corpo de muitos jornalistas falar mais alto. E por uma simples razão: a liberdade de expressão evocada pelos jornalistas visa proteger a livre circulação de informações, e o que o SBT São Paulo exibiu nunca poderá ser considerado jornalismo nem expressão espontânea de idéias, mas um atentado ao público. Além do mais, neste contexto, esse direito constitucional sequer cuida da proteção de quem fala ou escreve, mas da proteção do público, como bem lembrou a magistrada que deferiu o pedido dos procuradores, antecipando-se ao vozerio da classe pretensamente ofendida:

“Não se trata aqui de discutir o retorno da censura ou tampouco embaraçar a plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo (...). Cuida-se, isto sim, de identificar quem a Constituição federal quer proteger quando assegura a livre manifestação da informação. (...) Intérpretes da Primeira Emenda à Constituição estadunidense, ‘os jornalistas e outros autores são protegidos da censura para que o público em geral possa ter acesso à informação de que necessita’.”

E, convenhamos, o prejuízo financeiro acarretado pela suspensão de um dia de Domingo Legal (lembrando que o canal não ficará fora do ar) pode equivaler-se a uma multa de poucos centavos para um infrator comum se considerarmos que o réu distribui centenas de milhares de reais em um único programa, como no “Show do Milhão”. Por isso acho que a decisão da juíza foi até muito branda em se tratando do SBT, podendo mesmo comprometer o caráter inibitório da pena. Sinto que a Justiça Federal só agiu porque não teve escolha, porque foi praticamente obrigada a tomar uma atitude. Com uma conduta imoral cada vez mais ousada, há anos o apresentador Gugu Liberato vem desafiando as autoridades, implorando por uma interdição, que já vem tarde.

Silvio e sua trupe aprontam descaradamente desde que me entendo por gente. Quantas vezes a produção do Programa do Ratinho foi denunciada por pagar para supostos casais trocarem coices no auditório? Silvio “Santo” foi um dos primeiros a condenar seu cupincha no caso da entrevista com falsos membros do PCC, mas quem há poucos dias escandalizou ao dar uma entrevista bombástica sobre sua doença terminal forjada? Lembram-se de quando Gugu apresentou o “crânio de um E.T.”, vulgo chupa-cabra, fato divulgado e discutido um domingo inteiro, que mais tarde descobriu-se não passar de uma arraia empalhada? E agora vêm nos dizer que o tal Gugu não tem antecedentes?

Numa dessas madrugadas fui surpreendido com o então conceituado (?) Hermano Henning alarmado com esta “notícia urgente”: nos EUA (Alabama, acho) um caminhão havia sido atingido por um trem. “Ninguém ficou ferido”, disse Henning. Porém, as imagens, antiqüíssimas, fazem parte do acervo dos “Vídeos mais Incríveis do Mundo!”, que bem podiam chamar-se de os mais velhos do mundo. Outras reproduções desse mesmo acervo, nas quais pessoas quase morreram ou por pouco não se machucaram gravemente, são aproveitadas como se fossem meras videocassetadas, para a platéia embasbacada estrebuchar-se de tanto rir. Também, o que esperar de um jornalismo cuja praxe é dublar a voz dos entrevistados a fim de mais facilmente distorcerem suas palavras, como na série de entrevistas dominicais com astros de Hollywood, entre os quais Schwarzenegger (“E aí, Gugu? Te adoro, cara!”)?

Pra piorar, quiseram nos fazer acreditar que as entrevistas eram ao vivo, com o Gugu simulando que fazia no ar as perguntas que os atores haviam respondido na gravação, como se fosse possível fazer dublagens em tempo real! Esse misto constrangedor de jornalismo e novela mexicana atinge vítimas também em outros canais. É triste assistir como o solene Augusto Xavier, âncora da Rede TV, a contragosto, tem de terminar suas chamadas diárias para as manchetes nacionais e internacionais: “....Não perca no ‘Jornal da TV’, logo depois de Pedro, O Escamoso”.

Apesar de achar correta, quae sera tamen, a decisão da Justiça de suspender o programa, considero-a uma medida paliativa, tão infrutífera como aqueles boicotes organizados por correntes infernais (“A atitude dos internautas com um mínimo de inteligência é muito simples: não assistir, ou evitar assistir a [sic] programação do S.B.T.”.) se não vier acompanhada de uma mudança na cabeça dos telespectadores (lobotomia?). O SBT é de fato repulsivo, mas seus telespectadores não estão nem aí para as críticas e denúncias contra seus abusos e uma suspensão só serve para aumentar sua “importância” e a expectativa em torno do próximo domingo. Quem discorda de seu conteúdo, há muito não vê aquele desacreditado canal e quem gosta mal pode esperar o fim da suspensão para engrossar a audiência e restituir ao apresentador tudo o que ele desembolsou. As pessoas "com um mínimo de inteligência" não precisam ser orientadas sobre quais programas são bons e quais não prestam. Ou seja, quem assistia ao programa do Gugu vai continuar assistindo e quem não assiste vai continuar não assistindo.

Afinal, por que querem "convencer as pessoas com um mínimo de inteligência" de que o Domingo Legal não presta? Para que mudem para Globo, Band etc.? Mesmo se adiantasse, seria pular do espeto e cair na brasa. Por que pensar que a mentalidade dos homens que fazem televisão é diferente daquelas que se deixam hipnotizar pela telinha estroboscópica? Com o surgimento de um público com o gosto mais apurado, digo, menos depravado, os próprios programas mudariam automaticamente (até com a entrada de profissionais dessa nova geração nas redes, naturalmente), sem nenhum tipo de movimento – ou extinguir-se-iam. E essa mudança de mentalidade (o fim da bestialização) é fenômeno que não acontecerá nesta geração nem na próxima, muito menos a base de decreto.

(Portal Comunique-se, setembro de 2003)

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cartas

Patos de Minas, 4/7/2000

Manoel Almeida,

Em sua coluna (30 de junho) está escrito: "Paradoxalmente, foi a maneira dele salvar seus personagens, há muito ameaçados". O correto é: Paradoxalmente, foi a maneira de ele salvar seus personagens. Segundo a "Nova Gramática do Português Contemporâneo", de Celso Cunha e Lindley Cintra, publicada pela Nova Fronteira, "As preposições de e em contraem-se com o pronome reto da 3a pessoa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dele(s), dela(s) e nele(s), nela(s).

"A pasta é dele, e nela está o meu caderno.

"É de norma, porém, não haver a contração quando o pronome é sujeito; ou, melhor dizendo, quando as preposições de e em se relacionam com o infinitivo, e não com o pronome. Assim:
" Para que há de ele desconfiar de nós e maltratar-te?"(Machado de Assis)”.

Também está escrito na coluna de 30 de junho: "A sexta edição da série, por exemplo, foi entitulada" (...). O correto é intitulada, do verbo intitular.

Entretanto, o que chama a atenção em sua coluna não são erros como “entitulada”. São os dos jornais que você corrige, que pecam pela falta de lógica. Mesmo sem conhecimento profundo, você tem "faro". O estudo de gramática, creio, contribuiria muito.

Lívio Soares de Medeiros.
Terceiro Ano de Letras/Fepam

(Correio de Patos, julho de 2000)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

NOTA DO AUTOR

Consideramos nossa obrigação corrigir nesta página erros cometidos na versão impressa, desde, claro, que tais correções não interfiram no contexto da crítica. Optamos, ainda, por eventualmente editar alguns trechos a fim de adequá-los ao estilo e à linguagem que utilizaríamos caso os mesmos fossem publicados hoje, sempre preservando o sentido original. É nosso projeto digitalizar o material impresso e disponibilizar os linques nos "posts" correspondentes, tal qual publicado originalmente.