sábado, 31 de maio de 2008

Leitura para toda a família

A edição anterior abriu com carta assinada por uma mãe e seu filho, então com 1 ano e 8 meses (a criança assinou com uma impressão digital). Assim começa a carta:


"Somos leitores dessa revista, desde a primeira edição e deparamo-nos, em sua última tiragem de número 17, pág. 18, seção OMBUDSBOY, com uma matéria atinente ao vereador..."


Tiragem é o número de exemplares de cada edição. Portanto, a tiragem é 3.000 e 17 é a edição. Nunca houve "tiragem de número 17". A revista completará dois anos dia 10 de julho. Se de fato mãe e filho são leitores da Diga "desde a primeira edição" é claro que a mãe guardara as revistas para o menino, sendo, agora com 1 ano e 9 meses, nosso mais jovem leitor conhecido.


(Revista Diga - maio de 1996)


ombudsboy@gmail.com

OMBUDSBOY POR 1 DIA


(Correio de Patos - julho de 2000)

ombudsboy@gmail.com

Televisão e insanidade coletiva


Sempre que se noticiam chacinas como as que ocorrem nos Estados Unidos, e agora num cinema de São Paulo, a imprensa dá espaço aos argumentos de quem gosta de atribuir à TV, e, de reboque, aos video-games e à internet, a responsa pela insanidade daqueles homicidas.

No caso do índio Galdino, em Brasília, houve quem dissesse que o ato daquela quadrilha de jovens atear fogo na vítima inconsciente após encharcá-la de combustível não passava de uma brincadeira que acabara mal. De que brincadeira estão falando? E novamente ouvimos que "a culpa é da televisão". E TEM GENTE QUE ACREDITA!
Pra tudo quanto-há eles vêm com essa conversa de que a TV é culpada pela violência. Como se antes da invenção da televisão ninguém cometesse semelhantes crimes! Livros e jornais não publicam as mesmas coisas que a televisão veicula, até com descrição mais detalhada? Por que ninguém diz que a culpa é dos livros ou dos jornais?

Os assassinos do pataxó tiveram a coragem de dizer que viram a tal “brincadeira” numa "Pegadinha do Faustão". Não que eu duvide da transmissão de demência parecida nessas aberrações de domingo, mas será que vendo na TV exemplos de um dalai-lama ou Madre Tereza esses moleques saem por aí fazendo caridade?

(Correio de Patos - maio de 2000)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Números não mentem

"O número de acidentes com veículos no nosso trânsito mata dez vezes mais que nos países do primeiro mundo", informou a "Folha" de Presidente Olegário. Quem mata são os acidentes, não o número.

(Jornal Diga/Agora - setembro de 1996)

Escondendo o leite

A "Folha Patense" escreve iogurte com "y". Coincidentemente, o "Novo Tempo" também escreve "yogurte". Será um iogurte da Yopa? E a "Folha Patense" inventou ainda o "yogurte natural". Natural é aquilo que é produzido pela natureza. Será que a "Folha" encontrou a única fonte no mundo da qual jorra iogurte? Porém, nosso amigo Nivaldo Soares, do Sistema Clube de Comunicação, esclarece que existe iogurte natural, sim, pois o iogurte é resultado da fermentação natural do leite. A origem da palavra é turca e ainda segundo Nivaldo significa "leite espesso".

(Revista Phatos - julho de 1995)

ombudsboy@gmail.com

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Calvin é vítima de descaso editorial









Álbum do
personagem
cult criado por
Bill Watterson




As coletâneas de Calvin e Haroldo são excelente opção para os fãs de Bill Watterson, principalmente agora que o autor decidiu não mais fazer novas histórias. Paradoxalmente, foi a maneira de ele salvar seus personagens, há muito ameaçados: o Consórcio da Universal Press, detentor dos direitos da distribuição das tiras, queria sua exploração para além dos jornais (lancheiras, brinquedos, grifes etc.), o que certamente subjugaria sua criação aos interesses das indústrias, descaracterizando-lhe o espírito, como ocorreu às obras de artistas que cederam aos “Syndicates”.

Se o cartunista soubesse das traduções perpetradas pelas editoras brasileiras provavelmente recolheria os exemplares das bancas e livrarias, suspendendo qualquer forma de utilização já autorizada. “Básicamente”, “daqui há pouco”, “equestre”, “porque não?”, “por que?”, “musculos”, “sonambulos”, “as vêzes”, “fêz”, “fôr”, “evoluidos”, “vivessemos”, “sómente”, “egoista”, “força-lo”, “quiz”, “colhí”, “doe” (do verbo doer) são algumas barbaridades encontradas em apenas um volume dos álbuns.

A sexta edição da série, por exemplo, foi intitulada “A Vingança da Babá” (foto). Rosalyn, a “babá” do título, é a diarista contratada pelos pais de Calvin para ficar com ele quando têm de ficar fora de casa por algumas horas. O nome que se dá a essa função é baby-sitter (beibissíter, na falta de um termo em português). Babá, em vez disso, é a pessoa que convive com a criança, contratada para cuidar dela em tempo integral (nanny, nursemaid, em inglês).


A confusão sempre ocorre porque a de beibissíter é profissão incomum no Brasil e a nossa tendência é associar termos estrangeiros a qualquer outro que se aproxima com o que a gente já conhece. Exemplos de falsos cognatos não faltam. Mas pior é quando a gente lê “A vingança da babá” e descobre que a dita vingança é, na verdade, “A vingança de Calvin” [clique na imagem acima para ampliá-la], que é como deveria ser o título da revista. Agora eu não sei se o erro foi importado ou é da versão brasileira. No expediente há o título original: “The revenge of the baby-sat”. Alguém sabe o que significa “baby-sat”?


(Correio de Patos - Junho de 2000)

ombudsboy@gmail.com

Você falaria mal de quem paga o seu salário?

O ombudsman é o advogado do leitor, pago pelo próprio jornal. O departamento é uma espécie de seção de Controle de Qualidade. Sua função é "criticar o jornal sob o ponto de vista do leitor", por meio das reclamações que recebe. Mas se você tem alguma queixa a fazer contra uma reportagem sugiro que vá direto ao Procon, ou à polícia.

O ombudsman é eleito para um mandato que pode ser renovado. Não são os leitores, porém, que o elegem. Defeito grave, já na origem do personagem que inspirou esta coluna. A resistência da Folha de S.Paulo em admitir seus erros, agora por intermédio do ombudsman, mostrou que o alardeado "defensor do leitor" é, na verdade, o defensor do jornal. Comecemos pelo exemplo deste e-mail que recebi, idêntico a tantas cartas daquele escritório:

“Caro Senhor:

“Vimos por meio desta pedir desculpas pela demora em responder sua mensagem de dezembro passado.

“É lamentável, mas nosso departamento não conseguiu obter uma resposta da Secretaria de Redação a propósito do problema apresentado. Como o departamento de ombudsman não tem função executiva na Redação, e não há mais esperança de que a resposta devida seja dada, propomos dar o caso por encerrado --mesmo considerando que essa é a pior solução.”

É como a Folha administra, nos bastidores, seu compromisso público de responder todas as cartas e de retificar todos os erros que comete. Indignado com a espera de mais de um ano para a correção em um artigo sobre o Pato Donald, escrevi: “(...) A Folha não pode negar o fato de ser um jornal de Terceiro Mundo. Se é o melhor do país? Deve ser (pior para o país). Mas uma pessoa não recebe a pecha de mentirosa por dizer só mentiras o tempo todo. A mais mentirosa também diz verdades. Então não é porque tem outras virtudes e diz muitas verdades que a Folha vai deixar de ser o jornal mentiroso que é”.

Em único contato com este articulista, um ombudsman disse que ficou "sem ação" ao ler-me. Parece que ficou sem ação também ao responder-me.

“Caro Sr.

“Confesso que fiquei sem ação, ao lê-lo. Se seu objetivo era unicamente comunicar-me que considera a Folha ‘um jornal mentiroso’, muito bem. Discordo do sr; na minha opinião, a Folha é um jornal cheio de problemas, por momentos meio cabotino, mas não é mentiroso. Basta lembrar que é o único do Brasil que mantém um ombudsman para, pelo menos, discutir publicamente divergências existentes.

“Não sei quais as razões que levaram à não-solução do caso de que o sr. se queixa. O sr. não me pede, nem parece que seja o caso, para desenterrá-lo.

“Volte a procurar o ombudsman da Folha sempre que considerar conveniente.”

Não sabe por que o caso não foi resolvido nem procurou saber. Mais importante para ele é rebater as acusações de que o jornal mente, limitando-se, porém, a dizer que “a Folha é o único jornal que mantém um ombudsman”. Ora, sabemos que, por mais convencido que seja, um ombudsman é um "advogado". Não é garantia de idoneidade nem de infalibilidade do jornal. Até porque sua função é apontar os erros que o jornal já publicou, e não os que publicará.

A Folha admite os erros que convêm a ela admitir na seção do ombudsman e também na seção "Erramos", mas, observe, o "Erramos" preocupa-se mais com banalidades que não interessam ao leitor, como a correção de créditos de fotos: “A foto tal é de fulano e não de beltrano, como saiu publicado ontem”. A quem mais interessa senão a um ou dois fotógrafos da Folha? Outros exemplos de "Erramos" bastante comuns: "A matéria tal, de tal dia, saiu publicada duas vezes"; "Na edição de domingo a palavra 'personagem' saiu na pág.1-6 sem o 'r'". Em quaisquer desses exemplos, o leitor que leu as matérias não precisa do"Erramos", e quem não leu, precisa menos ainda.

Todo domingo o “Erramos” ocupa-se quase que inteiramente da programação de filmes que as emissoras alteraram depois do fechamento do TVFolha. Mesmo que isso deva ser feito no primeiro caderno por ser o último impresso, será que não há espaço em outra seção que não seja a “Erramos”, principalmente porque o erro não foi do jornal? Parece-me que o “Erramos” e ombudsman existem mais para servir de salvo-conduto do jornal.

Não é a Folha de S.Paulo o único a ter ombudsman, muitos o têm, ou tinham, entre os quais a Folha da Tarde, irmã da Folha. Na época de minhas correspondências com o ombudsman da Folha de S.Paulo, a Folha da Tarde fez uma campanha contra o Diário Popular, seu concorrente direto. A campanha diz que o político Orestes Quércia é dono do "Diário" e a chamada de página inteira pergunta:

"VOCÊ FALARIA MAL DE QUEM PAGA SEU SALÁRIO?”

A gracinha rendeu um processo contra o grupo Folha da Manhã S.A., pois põe em dúvida a honestidade e a imparcialidade de toda a Redação do "Diário". Mas, admite-se, o anúncio foi muito bem bolado. Seria o caso de perguntar para o ombudsman: você falaria mal de quem paga seu salário?

“INDEPENDÊNCIA - A independência econômica e financeira é condição essencial para a independência editorial e política do jornal.” (Novo Manual da Redação, da “Folha”.)


(Correio de Patos - Junho de 2000)

ombudsboy@gmail.com

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Bem-vindo!

Esta página é uma compilação de textos publicados, entre outros, nos jornais Diga Agora e Correio de Patos, na revista Phatos e na revista Diga (já extintos), nos quais o autor atuou como media criticism.